quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

OS ANJINHOS DA VOVÓ

Niette enviuvou cedo ficando responsável por seis filhos que ainda dependiam de orientação da família. O marido, morto precocemente, não lhe deixou herança nem pensão. Com uma pequena sorveteria, adquirida meses antes de perder o companheiro, ela educou a todos sem palmadas nem castigo, mas com muito exemplo e carinho. Anos mais tarde adotou mais uma menina: sua filha do coração.
Niette deixou também para os treze netos belas lembranças e muitas lições de vida. A primeira neta, Cristina, escreveu o texto abaixo, que foi encaminhado por sua mãe, Maria Therezinha, carinhosamente chamada pelos irmãos de Thetê.
Ainda muito pequena, com meus dois ou três anos, me lembro que vovó Niette veio passar uns tempos em nossa casa para tratamento de saúde.
Foi uma época muito boa, que convivemos com ela e dela recebemos todos os mimos de Vó. Apesar de meio adoentada ela nos enchia de carinho: fazia bolos, quindins, bala delícia, coisas que nossa mãe atarefada, na correria do dia a dia, raramente dispunha de tempo para tal.
Vovó nos levava (eu e minha irmã) a passear na pracinha, na escola e na igreja. Um dia nos levou à igreja, era mês de maio, para vermos a coroação de Nossa Senhora. Fiquei tão encantada com os anjinhos que ela me disse: "vou fazer uma roupinha de anjo para você ir à igreja no próximo domingo." No outro dia ela comprou tecido, asas de pena, marabu e começou... Enquanto tirava minhas medidas eu perguntava: - Vovó, anjinhos voam? E ela respondeu: - Anjinhos voam e tomam conta das criancinhas; você tem o seu Anjinho da Guarda. - Só meu? perguntei. - Só seu, ela respondeu. No domingo seguinte fomos todos à missa e eu, toda metida, um verdadeiro anjinho! Não pude participar da coroação por ser muito pequena, mas nem percebi o fato. Estava muito feliz. No final todos saíram da igreja. Vovó e mamãe pararam para conversar com pessoas conhecidas, enquanto isso, vi que para se entrar na sacristia havia uma escadinha com uns quatro degraus. Não perdi tempo; subi os degraus e me joguei como se fosse voar... Caí de barriga no chão. Todos correram assustados, enquanto eu dizia: - Vovó, este anjo não voa. E vovó respondeu: - Minha filha, eu disse que só voam os Anjos do Céu, e me abraçou forte.
Vovó Niette, minha vó querida, minha madrinha. Como tenho saudades de você!
Encaminhado por Maria Lúcia Sardenberg
Imagem: imagensporfavor.com

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